sábado, 31 de agosto de 2013

Homenagem!

Quase todas as noites eu subia aquela rua
Que exalava um falso perfume
De realeza. Já era mais que um costume
Conhecer as madrugadas ali, ver a lua

Subindo sobre o morro.
As palmeiras sombreavam as camas
Engendradas dos que, sem nenhum drama,
Deitavam-se para dormir sem socorro.

Eu olhava do bar. Sentado no balcão
Acostumei observar a calçada e indignar-me
Com a triste audição

De um cachimbo sendo aceso
E do tilintar inconfundível de uma garrafa
Servindo ao corpo indefeso. 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Famosa Simetria

Cortei o alho em pequenos pedaços simétricos
E atirei no óleo milimetricamente espalhado pela panela.
O feijão esquentava na panela menor,
O bife saltava dentro da frigideira,
A mesma que um dia evitara aderências.

Alface, tomate e um copo de água.
Gosto de separar a louça e organizar
Antes de iniciar a limpeza na cozinha.

Perdido é quem acha que o vício em coca
É mais destruidor do que o vício em rotina.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Poema do dia a dia!

Ontem eu era feliz, hoje não sou mais!
Deposito todas as minhas esperanças
No dia depois de amanhã.
Talvez, se todos me ajudarem,
Amanhã possa ser um bom dia:
Mas não hoje!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Primavera

Cheguei à primavera.
Sentado no banco ainda molhado da chuva
Pude sentir o cheiro de ferro
Que desacelera o tempo.

O peso em minhas costas
Reprimia a velocidade do meu caminho.
Meus pés liam o chão
Como se procurassem respostas escondidas.

Em frente! Em frente!
Sede e fome, mas eu queria continuar!
Anos e anos passavam ao meu lado
E eu tão diferente do dia que cheguei!

Atravessei por uma ponte
Que eu não sabia que existia.
Eu não queria conhecer mais nada,
Eu já sentia meu horizonte completo!

Errei. Eu estava enganado!
O alento da certeza tinha ficado para trás,
Uma nova estação se aproximava
E eu, calado, cheio de terror.

Não voltei mais a primavera!
Um dia, perdido, eu passei por perto
E pude vê-la ao longe.
Ela espera a minha volta.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quase nunca consigo te entender

Quase nunca eu consigo te entender.
Eu paro, respiro, procuro concentrar toda a minha atenção
Mas não faz sentido.

Não entendo o que é alegria,
Fico em dúvida se é tristeza.
Não sei se você quer me abraçar e
Não percebo se o jeito que me olha
É um pedido de abraço.

Quase nunca eu consigo te entender.
Fico parado, respirando, e concentrando toda a minha atenção
Mas não é suficiente.

Que distância é essa que nos separa tanto,
Mesmo quando estamos conversando olhos nos olhos?

Olhos de aquário

A sombra verde sobre teus olhos de aquário,
Dois olhos que enfeitavam o manto que você vestia
E que anulavam a multidão:
É esse o quadro que eu tenho medo de esquecer.

O céu como um borrão, uma luz quase infinita sobre você.
A tua presença teve a intensidade de uma bomba,
Mas não me lembro de nenhum som.

Todas as manhãs, antes de abrir os olhos,
Busco essa cena dentro das minhas lembranças.
Rememoro, procuro não inventar detalhes:
É uma batalha em trincheiras para te sentir,
É uma luta sem glórias que não sei se posso ganhar.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sem pensar

Sem pensar,
Porque se penso eu forço esquecer o que sinto.
Poderia nadar até você, mas não vou. Sou fraco.

Vou tentar não olhar suas fotos
E prometo não enviar mensagens.
Porém ficarei contigo todas as noites
E talvez só te abandone quando eu for dormir.

Talvez, quando for hora de cortar novamente a grama,
Quando for tempo de tirar as cobertas do armário,
Esse vício tenha me deixado. Talvez tenha outro em seu lugar.

Só gostaria de conseguir ver o fim agora,
De marcar o momento na agenda,
De começar a ter você como lembrança.