sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Melodia repetida

Não quero cantar
uma melodia repetida.
"Verdadeiro amor" é ideia falida
e não vou me deixar levar.

Eu quero escrever sobre o brilho lunar
que me prendeu de fato.
Você e eu perdidos no ato:
"Um beijo ou dois devemos dar?"

Eu não imaginei que aquele encontro
despretencioso, no calor de verão,
seria um pequeno e insistente monstro

que não me deixaria dormir
por dias e meses a fio.
Verdadeiro amor? Nunca vai existir!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Um dia

Já passa de meio-dia.
Há minutos estou sentado nessa cadeira.
Apoiando meus cotovelos na beira
Do balcão eu engulo essa cerveja fria
Que, Seria motivo de um barulho interminável
Em qualquer boteco de banheiro respirável.

Recebi uma mensagem minutos atrás:
“Estou chegando”. Na verdade não tenho pressa!
É a primeira vez que finco meu corpo nessa
Terra de Neruda, e não quero que o relógio de satanás
Ande mais rápido do que o necessário.
Se você está chegando: não importa o horário!

A vontade que tenho é de beijar teu rosto
E, me imaginar corajoso me conforta!
“Ela vem pela entrada lateral ou pela porta
Que sai direto na rua?”. Não sei! O gosto
De outra cerveja, completamente quente desta vez,
Ajuda-me a disfarçar toda minha timidez.

Ela está me olhando através
Do vidro! Um “Olá” curto marca o início
De um dia em que, quem diria, o maior suplício
Não será a forte dor nos pés
Depois de tantas, ruas, praças e esquinas cruzadas.
Nossas histórias continuam desatadas.

Procuro coisas interessantes para te dizer
No momento da última frase. Quero delicadeza!
Quero te dizer que com toda certeza
Sentirei tua falta.  Mas “Adeus” é tudo o que consigo fazer.
Viro as costas para sair e penso: “E você, só você, terá meu
Coração para sempre!”. É tarde. Esse dia já morreu.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Vejo seus braços abertos como cruz

Vejo seus braços abertos como cruz
Com a ponta dos dedos tocando o ar.
O vento gelado passa por teu pescoço
E eu respiro, profundo.
Eu te assisto.

Meu peso está espalhado pelo chão
Sobre uma folha qualquer que irrita meu braço
(A sua risada ruboriza alguma parte de mim que eu tento esconder).
O vento que caminha junto de nós
Canta, junto com as folhas, a mesma canção dos rios.

Ouço o leve silvo do ar saindo de sua boca: te achei!
Corro para a porta e te anuncio!
Ensaio um sorriso calmo
De um desinteresse inexistente.

Você não sabe. Eu não sabia.
Fiz como se não fosse nada.
Fiz como se não fosse o dia.

sábado, 31 de agosto de 2013

Homenagem!

Quase todas as noites eu subia aquela rua
Que exalava um falso perfume
De realeza. Já era mais que um costume
Conhecer as madrugadas ali, ver a lua

Subindo sobre o morro.
As palmeiras sombreavam as camas
Engendradas dos que, sem nenhum drama,
Deitavam-se para dormir sem socorro.

Eu olhava do bar. Sentado no balcão
Acostumei observar a calçada e indignar-me
Com a triste audição

De um cachimbo sendo aceso
E do tilintar inconfundível de uma garrafa
Servindo ao corpo indefeso. 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Famosa Simetria

Cortei o alho em pequenos pedaços simétricos
E atirei no óleo milimetricamente espalhado pela panela.
O feijão esquentava na panela menor,
O bife saltava dentro da frigideira,
A mesma que um dia evitara aderências.

Alface, tomate e um copo de água.
Gosto de separar a louça e organizar
Antes de iniciar a limpeza na cozinha.

Perdido é quem acha que o vício em coca
É mais destruidor do que o vício em rotina.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Poema do dia a dia!

Ontem eu era feliz, hoje não sou mais!
Deposito todas as minhas esperanças
No dia depois de amanhã.
Talvez, se todos me ajudarem,
Amanhã possa ser um bom dia:
Mas não hoje!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Primavera

Cheguei à primavera.
Sentado no banco ainda molhado da chuva
Pude sentir o cheiro de ferro
Que desacelera o tempo.

O peso em minhas costas
Reprimia a velocidade do meu caminho.
Meus pés liam o chão
Como se procurassem respostas escondidas.

Em frente! Em frente!
Sede e fome, mas eu queria continuar!
Anos e anos passavam ao meu lado
E eu tão diferente do dia que cheguei!

Atravessei por uma ponte
Que eu não sabia que existia.
Eu não queria conhecer mais nada,
Eu já sentia meu horizonte completo!

Errei. Eu estava enganado!
O alento da certeza tinha ficado para trás,
Uma nova estação se aproximava
E eu, calado, cheio de terror.

Não voltei mais a primavera!
Um dia, perdido, eu passei por perto
E pude vê-la ao longe.
Ela espera a minha volta.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Quase nunca consigo te entender

Quase nunca eu consigo te entender.
Eu paro, respiro, procuro concentrar toda a minha atenção
Mas não faz sentido.

Não entendo o que é alegria,
Fico em dúvida se é tristeza.
Não sei se você quer me abraçar e
Não percebo se o jeito que me olha
É um pedido de abraço.

Quase nunca eu consigo te entender.
Fico parado, respirando, e concentrando toda a minha atenção
Mas não é suficiente.

Que distância é essa que nos separa tanto,
Mesmo quando estamos conversando olhos nos olhos?

Olhos de aquário

A sombra verde sobre teus olhos de aquário,
Dois olhos que enfeitavam o manto que você vestia
E que anulavam a multidão:
É esse o quadro que eu tenho medo de esquecer.

O céu como um borrão, uma luz quase infinita sobre você.
A tua presença teve a intensidade de uma bomba,
Mas não me lembro de nenhum som.

Todas as manhãs, antes de abrir os olhos,
Busco essa cena dentro das minhas lembranças.
Rememoro, procuro não inventar detalhes:
É uma batalha em trincheiras para te sentir,
É uma luta sem glórias que não sei se posso ganhar.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sem pensar

Sem pensar,
Porque se penso eu forço esquecer o que sinto.
Poderia nadar até você, mas não vou. Sou fraco.

Vou tentar não olhar suas fotos
E prometo não enviar mensagens.
Porém ficarei contigo todas as noites
E talvez só te abandone quando eu for dormir.

Talvez, quando for hora de cortar novamente a grama,
Quando for tempo de tirar as cobertas do armário,
Esse vício tenha me deixado. Talvez tenha outro em seu lugar.

Só gostaria de conseguir ver o fim agora,
De marcar o momento na agenda,
De começar a ter você como lembrança.